Trata-se de uma “tese filhote” da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins — a chamada “tese do século”
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) retoma, em março, um julgamento de impacto para o caixa das empresas que recolhem Imposto de Renda (IRPJ) e CSLL pelo regime do lucro presumido. Os ministros da 1ª Seção vão dizer se essas companhias podem excluir o ICMS da base de cálculo desses dois tributos federais.
Trata-se de uma "tese filhote" da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins - a chamada "tese do século", discussão bilionária definida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano de 2017.
Se os ministros do STJ seguirem a mesma linha adotada pelo STF, permitindo a exclusão do ICMS, as alíquotas de IRPJ e CSLL serão aplicadas sobre uma base menor e, consequentemente, as empresas pagarão menos tributos.
Poderão, além disso, recuperar valores que foram pagos de forma indevida à União nos últimos cinco anos.
O julgamento está previsto para ocorrer no dia 8 de março em caráter repetitivo. Significa que a decisão que for proferida pelos ministros da 1ª Seção deverá ser replicada a todos os processos que estão na primeira e segunda instância e também nas turmas de direito público do STJ.
Entenda
Estão no regime do lucro presumido as empresas com faturamento anual de até R$ 78 milhões. Nessa modalidade, a apuração do IRPJ e da CSLL é feita de forma simplificada.
As companhias aplicam um percentual previsto em lei (que varia conforme os setores) sobre o faturamento bruto e o resultado serve de base para a incidência do IRPJ e da CSLL.
A indústria, por exemplo, aplica o percentual de 8% para calcular o IRPJ. Se teve um faturamento de R$ 50 milhões com venda de mercadoria, os 8% incidem sobre esse total e o resultado - R$ 4 milhões - seria a base de cálculo do imposto. Sobre esses R$ 4 milhões, portanto, é que incide a alíquota do IRPJ.
O que se discute, no STJ, é se os valores correspondentes ao ICMS que constam nas notas fiscais e são repassados pelas empresas aos governos estaduais podem ser considerados receita bruta e calculadoa para fins de IRPJ e CSLL.
"Supondo que 10% dos R$ 50 milhões do faturamento com venda de mercadoria são ICMS. A empresa vai tirar R$ 5 milhões da conta. Então, a empresa aplicaria os 8% não mais sobre os R$ 50 milhões, mas sim sobre R$ 45 milhões e, consequentemente, teria uma base menor para a incidência do imposto", diz o tributarista Eduardo Suessmann, sócio do Suessmann Advogados, levando em conta o exemplo hipotético citado acima.
Contribuintes em vantagem
A 1ª Seção do STJ iniciou o julgamento desse tema em outubro do ano passado. A relatora, ministra Regina Helena Costa, foi a única que proferiu voto - a favor da exclusão do ICMS.
Ela seguiu a mesma lógica dos ministros do STF no julgamento da "tese do século". O ICMS apenas transita pela contabilidade da empresa. Ela recebe de quem comprou a mercadoria e repassa aos Estados.
Se esses valores pertencem, então, a um terceiro - no caso, os Estados - não representam acréscimo patrimonial e, por esse motivo, não podem ser oferecidos à tributação.
“Receita não pode ser uma coisa para um tema e ter outro conteúdo para outro tema”, afirmou na ocasião, destacando que o STF já decidiu o que é receita ao tratar sobre a base do PIS e da Cofins. “Não podemos criar outro conceito de receita.”
O julgamento, naquela ocasião, foi interrompido por um pedido de vista do ministro Gurgel de Faria. Foi ele quem liberou o tema para ser julgado no dia 8 de março.
A 1ª Seção é composta por 11 ministros, mas o presidente só vota em caso de empate (REsp 1767631 e REsp 1772470).
Fonte: Valor Econômico
Comments